Bem vindos ao meu canto criativo. Não poder me expressar é quase sinônimo de não poder respirar.

domingo, 24 de agosto de 2025

Iza

Ele nasceu de mim

Mas não era meu

Nem minha

Anulando os sonhos que eu tinha

Eu achava que era para ser assim

Mas era assado

Não estava certo ou errado

Apenas real e tangível

Uma dor sensível

 

Me atravessou a alma

Quebrou parte do meu coração

O qual sangrou quando tudo mudou

Me desensinou a fantasia

Que a vida seria como eu queria

Que eu tinha controle da situação

 

Eu não queria soltar a mão

E confiar que a onda levasse

e este tempo terminasse

Porém, um dia o mar devolve

E te envolve

Tudo evolve

 

Nossos filhos não são nossos

Eles apenas são

Respiram seu próprio coração

Eles têm um universo

Que reservam para si

E não adianta insistir


Fé, carreira, sexualidade 

Relacionamentos e identidade

Humores, terrores e amores

Segredos, alegrias e dores

Um oceano de emoções

Que reservam para si

E não adianta insistir

 

Ele nasceu de mim

Não era meu

Nem minha

Na morte houve vida

Uma pequena flor

Uma nova forma de amor

Aprendendo a escutar

As palavras não faladas

A criança assustada

Os momentos de pausa

Sem questionar a causa

 

Abraçando a incerteza

Aceitando este presente

De amar com mais leveza

Sem expectativas

Sem exigências

Amar sem entender

Mas com clareza

 

Te amo, minha vida

Te amor porque escolhi te amar

Você nasceu de mim

Mas não é meu

Nem minha

Mas eu sou sua

Sou sua mãe

Meu coração está maleável

E vai se adaptar

A todas as formas de te amar

 

Mesmo que eu sinta medo

Eu protejo seu segredo

Eu vou te acompanhar

Durante a trajetória

Até você se encontrar

E fazer sua história


E pelo caminho...

Eu me encontrarei também

Em você

Meu espelho, meu bem.  

sábado, 22 de fevereiro de 2025

MEIA IDADE

Acordei no meio da vida
Mal vivida
Um pouco contida
Mas ainda assim, minha vida

Acordei de forma brusca
Com um soco no coração
Um velho refrão
De supetão
Me lancei na busca
Um pouco perdida
Mas ainda assim, minha vida

Os muros desmoronaram
Os sonhos se afastaram
Os amores falharam
As rugas visitaram
Mas o corpo seguiu rugindo
A alma rindo
Os motivos sumindo
Tive uma recaída
Mas ainda assim, minha vida

Encontrei algo espiritual
Mas também algo banal
Algo novo e algo igual
Um dança coloquial 
Cores descombinando
O cabelo voando
A maquiagem escorrendo
Vivendo e aprendendo
Uma grande sacudida
Mas ainda assim, minha vida

Nao era o planejado
Como se algo deu errado
Nao era o da revista
Nao estava prevista
Mas ainda assim, uma conquista
Eu sou eu, mas diferente
O extremo e equivalente
Um grego presente
Uma distraída
Mas ainda assim, minha vida

Muito coisa aprendi
E desaprendi
A respirar com mais amor
A dormir com mais carinho
Um falar mais genuino
Uma convivência com a dor 
Sem terror
Um apego pela liberdade
De ser eu, ser minha
Um desapego pela mascara
Que eu antes tinha
Um desejo de não desejar
Apenas observar
Uma vontade de não querer
Apenas ser

Um risco sem saída
Mas ainda assim, minha vida
…Minha vida


quinta-feira, 8 de agosto de 2024

BURACO

 Existe um buraco entre o peito

Que não sente direito

Que sempre encontra um defeito

E não descansa no leito

 

O buraco é invisível

Mas alguém o cavou

Alguém te magoou

Abandonou

E foi imprevisível

Até inadmissível

 

Não deu tempo de se preparar

Para colocar algo no lugar

Self-help ou outro hobby

É impossível de enganar

Simplesmente apareceu

E você não mereceu

Mas o buraco agora é seu

 

Você pode decorar de flores

Ou de dores

Você pode fazer a cama

Ou rolar na lama

Não existe regra ou solução

Apenas um buracão

Um vazio temporário

Um espaço no armário

Que foi esvaziado

Roubado e dilapidado

Mal amado


Às vezes você escala um pouco

E vê um por do sol

Mas sem sentir o calor

Um sentimento louco

Às vezes você é um zumbi

Esquece que pode rir

Fica dentro de si

 

O buraco não é sua vida

Apenas uma estação

Um dor incabida

Dentro do coração

Um tempo de luto

E introspecção

 

Dê o tempo ao tempo

Lembre-se de outros momentos

Outros buracos

... Que hoje são refugio

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

ORFÃ

Hoje acordei orfã

Sem mãe nem pai

Sem lar, sem par

Sem centro ou fim

Apenas eu 


Tentei lembrar-me de mais

De amor e paz

De colo e aconchego

Beijo na testa

Bolo na festa

Mas fui incapaz

Foi ineficaz


Lembrei-me de sombras

Mentiras e fantasias

Fuga e choro

Indiferença

Invisibilidade

Mera existência

Uma memória cinza

Sem cor

Com pouco amor


Lembrei-me de moradias

Casas, calçadas e beliches

Àgua gelada, fetiches

Seres doentes na mente

Medo constante e eminente

Um jogo de sobrevivência

Uma efêmera existência

Um buraco escuro no fundo do baú


Uns vivem de memórias

De dias alegres e inocentes

Torrada, geleia e presentes

Calor e cuidado

Sono sossegado

Comida e carinho

De ter um ninho

De mãe e pai

Beijo de boa noite


Eu vaculho meu universo

Por túneis empoeirados

Lugares mal amados

Buscando os armários

Onde me escondia

No universo paralelo

De tudo que é singelo

Que outros enxergam como banal

Como apenas um dia


Ser órfã é um estado

Algo físico e pesado

Mesmo rodeada de entes

Continuo ausente


O que não foi nunca será

Mas o que é sou eu

Mesmo invisível, existo

E persisto


Eu lembro-me de mim

Meus pensamentos

Meus anseios

Minhas verdades

Nenhuma maldade

Pois como posso errar

Se ninguém pôde me ensinar?


Eu respiro vida, não memorias.

Respiro hoje, não ontem.

Amanha é mágico, novas histórias ...

Talvez não desapontem.

quinta-feira, 19 de março de 2020

ISOLAMENTO


A mesma cama, o mesmo lençol e sofá.
O alarme maldito que deixou de tocar.
Um almoço, um lanche, um jantar.

Não sei que horas são e nessas horas não importa.
Horas? Que tal dias? Encarando a porta.
Tanta vida presa, este apartamento comporta.

Dirigir... ah dirigir. Até mesmo fugir.
Só o pensamento me faz sorrir.
Mas a pergunta é: Para onde ir?

Lugar remoto. Que tal China?
Sinceramente, estou mais segura na esquina.
O inimigo invisível se esconde na neblina.

O perigo sempre foi fácil de ver.
Eu corro me escondo. Eu finjo não crer.
Ignoro se não há nada que se possa fazer.

Se tudo desmorona, eu corro na praia
Pego o carro e vou para gandaia.
Lugares abertos. É minha laia.

Mas grades? E portas? Por acaso sou culpado?
Pelo que me lembro, não fiz nada de errado.
Tudo que quero são pessoas do meu lado.

Silencio e ruído? Um eterno zumbido.
Se eu pudesse, já teria sumido.
Furtaram minha liberdade igual bandido.

sexta-feira, 14 de junho de 2019

FELIZ?

Logo serei feliz
Feliz? Não sou feliz já?
Tenho amor e carinho
Um lar como um ninho
O que faltará?

Eu digo, o espaço
Sem estática e violência
A forçada dormência
que me força a segurar
para não chorar

Quando vier o espaço
A respiração sem ressalvas
A paz que me salva
Sentirei... e saberei
Que sou feliz
Mas precisava de espaço

Para sentir a felicidade

De verdade

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

NINHO

Ninho, ninho
Tão precário
No topo do pino
No começo do verão
Na estação de tormentas
Mas o ninho aguenta

O vento sacode
A brisa sopra
Tanto faz para o ninho
Ele dança do mesmo jeito
e não encontra nenhum defeito

Chega Natal, Ano Novo ou Aniversário
Tanto faz para o ninho,
Todo dia é dia de canto
De voo, de descanso

De todos os lugares para fazer seu ninho
Escolheste o topo do pino
Um pino magro, desfolhado
Altamente desprotegido
Por que? Querido pássaro?

Decerto, pela altura
Pela distância, não pela abastança
Perigo há em qualquer lugar
Mas não esta vista 
Este sentimento de afastamento
Esta paz que vem por estar tão perto do céu

O ambiente te protege
E se chegar tua hora, será bela

Ninho, ninho; como te quero.
Te prezo com carinho.

Você é meu herói.