Hoje acordei órfã
Sem mãe nem pai
Sem lar sem par
Sem centro ou fim
Apenas eu
Tentei lembrar-me de mais
De amor e paz
De colo e aconchego
Beijo na testa
Bolo na festa
Mas fui incapaz
Foi ineficaz
Lembrei-me de sombras
Mentiras e fantasias
Fuga e choro
Indiferença
Invisibilidade
Mera existência
Uma memória cinza
Sem cor
Com pouco amor
Lembrei-me de moradias
Casas, calçadas e beliches
Água gelada, fetiches
Seres doentes na mente
Medo constante e eminente
Um jogo de sobrevivência
Uma efêmera existência
Um buraco escuro no fundo
do baú
Uns vivem nas memorias
De dias alegres e inocentes
Torrada, geleia e presentes
Calor e cuidado
Sono sossegado
Comida e carinho
De ter um ninho
De mãe e pai
beijo de boa noite
Eu vasculho meu universo
Por túneis empoeirados
Lugares mal amados
Buscando os armários
Onde me escondia
No universo paralelo
De tudo que é singelo
Que outros enxergam como
banal
Como apenas um dia
Ser órfã é um estado
Algo físico e pesado
Mesmo rodeada de entes
Continuo ausente
O que não foi nunca será
Mas o que é sou eu
Mesmo invisível, existo
E persisto
Eu lembro-me de mim
Meus pensamentos
Meus anseios
Minhas verdades
Nenhuma maldade
Pois como posso errar
Se ninguém pôde me
ensinar?
Eu respiro vida, não
memorias.
Respiro hoje, não ontem.
Amanha é mágico, novas
histórias ...
Talvez não desapontem.
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